Primeira Guerra Luso-Malabar | |||
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Conflitos Luso-Malabares | |||
A cidade de Calecute em Civitates Orbis Terrarum, 1572 | |||
Data | 18 de Dezembro de 1500 – 24 de Dezembro de 1513 | ||
Local | Costa do Malabar, Mar da Arábia, Índia | ||
Desfecho | Vitória do Império Português | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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A Primeira Guerra Luso-Malabar foi o primeiro conflito armado travado pelo Império Português na Ásia e o primeiro de nove contra o Samorim de Calecute, então o potentado preemninente da Costa do Malabar, na Índia.[1] Em 1500 rebentaram as hostilidades e continuaram por mais treze anos até que o Samorim foi assassinado, tendo o seu sucessor assinado um tratado de paz com o governador da Índia Afonso de Albuquerque.
O conflito deu-se por questões de comércio. O Samorim, ainda que hindu, estava profundamente dependente e comprometido com a influente comunidade mercantil islâmica de Calecute, cujos mercadores árabes eram pelos portugueses chamados de "mouros de Meca". Apercebendo-se estes da ameaça que os portugueses representavam para os seus interesses, conspiraram e interferiram com as tentativas dos portugueses de comerciar na Índia ou negociar com o Samorim.
Algumas das mais famosas personalidades dos Descobrimentos tomaram parte na guerra, nomeadamente Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, D. Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque, ao passo que as acções de certos comandantes como Duarte Pacheco Pereira são considerados alguns dos maiores feitos de armas da história militar de Portugal. Envolveu uma parte importante da sociedade portuguesa directamente ou indirectamente, muitos ingressando no serviço a bordo das armadas do rei D. Manuel atraídos pelas promessas de riqueza e glória, não obstante os riscos elevados devido a doença, naufrágio ou acção inimiga. "Tratou-se de um supremo esforço nacional que exigiu todos os recursos disponíveis em termos de mão-de-obra, armação naval, aprovisionamento material e visão estratégica para aproveitar uma janela de oportunidade antes que Espanha tivesse tempo de reagir. Pelo caminho, os portugueses surpreenderam totalmente tanto a Europa como os povos do Oriente."[2]
Ao contornarem África e chegarem à Índia por mar, os portugueses incorreram na hostilidade de toda a comunidade mercantil muçulmana envolvida no trato entre a Ásia e o Médio-Oriente, bem como a República de Veneza, cujos interesses comerciais se viram ameaçados.[3] Apesar de numerosos, os exércitos de naires do Samorim mostraram ser inflexíveis por comparação às mais pequenas e bem motivadas forças dos portugueses, cujos aliados malabares, também eles hostis ao Samorim, lhes forneciam informações obtidas por espionagem.[4] Os portugueses também obtiveram o apoio dos Cristãos de São Tomé.[5] O Samorim procurou contratar experientes corsários árabes e acolher renegados ou especialistas europeus, o que se revelou, porém, insuficiente.
Dentro de Calecute houve quem favorecesse a paz com os portugueses. As perdas foram pesadas para o Samorim, quer em termos materiais, de vidas ou de prestígios: vários vassalos seus repudiaram a sua suzerania, um grande número de mercadores abandonou a cidade e por fim foi o rajá assassinado. O seu sucessor negociou um tratado com os portugueses e uma fortaleza foi construída em Calecute.
O rei de Cochim era um vassalo rebelde de Calecute, que, fruto da sua aliança aos portugueses emergiu como um contra-poder ao Samorim na Costa do Malabar.
O conflito é também notável por ter sido a primeira guerra travada por Europeus na Índia após a partida dos Seleucos e dos Gregos 1500 anos antes.